Das coisas pequenas

Este assunto daria um tratado.
Sobre as coisas pequenas quase ninguém gosta ou se lembra de falar. Todos queremos coisas grandes, coisas que dão nas vistas, coisas que chamam a atenção, na esperança de que as atenções se concentrem em nós. Esquecemos que, quanto maiores forem as coisas que transportamos, quanto maiores as coisas que fazemos, quando maiores as nossas vaidades tanto menos deixam ver o vaidoso.
As coisas pequenas pesam menos e deixam sempre espaço para aquele que as possui ou as realiza. A vaidade ofusca o vaidoso ou provoca inveja sobre ele. As pequenas coisas nunca são invejadas por parecerem banais, correntes e de fácil alcance. As coisas grandes, sim, produzem inveja que corrói as relações e falseia as amizades porque atraem a imbecilidade. As coisas pequenas atraem a sabedoria porque só os sábios se interessam pelas coisas pequenas e insignificantes, só os sábios se interessam pelo mistério da pequenez.
As coisas pequenas enaltecem o seu criador, o seu possuidor. As coisas grandes diminuem o seu dono. As coisas grandes produzem um peso difícil de suportar. As coisas pequenas levam-se na aljava, onde se guardam os tesouros.
Pode ser pequena a nossa vida, mas será certamente o maior tesouro que temos. A busca das grandezas reduz o valor do tesouro que é a vida.

Fonte: Porque o céu é azul

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