QUARESMA

Com a Quarta-feira de Cinzas começou um novo ciclo do Ano Litúrgico é o ciclo da Páscoa que se inicia com a Quaresma, isto é, com quarenta dias de preparação para o Tríduo Pascal com a celebração da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. O número 40 é um número simbólico que contém sempre o sentido da preparação. Foram os 40 dias do dilúvio para preparar a reconciliação e a paz entre Deus e a humanidade, foram 40 dias de caminho do profeta Elias para chegar ao monte de Deus, foram 40 anos de deserto para preparar a entrada do Povo de Deus na Terra Prometida, foram 40 dias de penitência de Nínive para receber o perdão de Deus, foram, já no Novo Testamento, 40 dias que Jesus viveu no deserto antes de iniciar a sua vida pública. O número 40 tem sempre o sentido de preparação para alguma coisa de extraordinário que Deus concede ao homem, em extraordinário gesto de amor.

A Quaresma são 40 dias de preparação para a Páscoa. Só no séc. IV, por volta de 350 d. C., a Igreja consagrou um tempo assim preciso para a preparação da Festa Pascal. Até ai viviam-se apenas três dias, o tríduo pascal. A Igreja apercebeu-se de que era pouco tempo para preparar a celebração da Páscoa do Senhor, da Ressurreição de Cristo. Este é um tempo muito importante para os cristãos.

1. A Quaresma é tempo de conversão, com a oportunidade de, ao ritmo da liturgia, ir fazendo a avaliação da vida, na relação com Deus, mas também na relação com os outros e na relação com as coisas. É um desafio para a transformação de toda a vida, uma certa morte e ressurreição, nas coisas grandes, o que não é difícil, mas sobretudo nas coisas pequeninas. A conversão supõe o reconhecer de que há coisas na vida de cada um que não estão bem e que podem e devem mudar. A pouco e pouco, o homem velho abre-se ao homem novo, redimido por Cristo, iluminado pelo Evangelho, capaz de transformar tudo à sua volta.

2. A Quaresma é um tempo privilegiado para novas atitudes, com gestos de partilha (a esmola), com momentos fortes de diálogo com Deus (oração), com sinais de austeridade (jejum). Aliás, o Evangelho de Quarta-feira de Cinzas insiste na verdade das atitudes e dá orientações concretas para o jejum, a oração e a esmola recomendadas por Jesus. Redescobrir os desafios que contêm esta proposta, neste terceiro milénio, é um trabalho quaresmal de extraordinária importância. O que o Evangelho chama esmola tem de tornar-se ajuda ao outro para, com justiça e amor, conseguir resolver os seus problemas. A oração tem de ser redescoberta como diálogo de intimidade, no encontro com Jesus que só na leitura da Palavra de Deus se consegue plenamente. O jejum é um convide à austeridade de vida, a uma certa ascese, indispensável para ter um coração disponível para Deus.

3. A Quaresma é tempo de contemplação e de silêncio interior. Só no silêncio é possível encontrar Deus, o Deus que pede mais, porque ama sempre mais. Só no silêncio é fácil conversar com Jesus, quando Ele tem tantas coisas para nos dizer!

É neste contexto que, no primeiro dia da Quaresma, os cristãos recebem a imposição das cinzas. Mais do que saberem ser pó e que ao pó hão-de voltar, os cristãos recebem um pedido: «Arrependei-vos e acreditai no Evangelho.» (Mc 1, 15)


Monsenhor Vitor Feytor Pinto

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